Grande parte de nosso tempo, estamos inconscientes a respeito de nosso próprio comportamento, sentimentos e emoções. De acordo com um estudo publicado no Journal of Marketing Research – intitulado "Emotional Ability Training and Mindful Eating"-, o processo de escolha de nossa alimentação também não foge a esse princípio, pois, muitas vezes, comemos mais para satisfazer nossas necessidades emocionais, do que propriamente as nutricionais.
Muitos estudos, inclusive, já demonstraram que os esforços do marketing são direcionados exatamente para capturar esse tipo de deficiência, isto é, fisgar aqueles que praticam a chamada "alimentação hedonista" – voltada primordialmente à satisfação do prazer. Vamos nos lembrar de que quando vamos a um restaurante, o fazemos para poder comer o prato predileto ou ainda saborear aquela sobremesa tão esperada. Assim, decorrente dos hábitos psicológicos e culturais, comemos para festejar momentos alegres, como também comemos para aplacar nossos sentimentos de infelicidade, tristeza ou angústia. Portanto, o aspecto emocional claramente permeia nossa conduta alimentar.
Dessa forma, tal investigação procurou compreender como os consumidores se portam na hora de exercer suas preferências nutricionais e, ainda, qual seria a influência das emoções pessoais sobre esse processo de escolha.
A pesquisa
Os pesquisadores defenderam a hipótese de que a "inteligência emocional" – definida pela habilidade que uma pessoa exibe em perceber aquilo que está sentindo em um determinado momento -, se treinada, poderia vir a se tornar uma poderosa aliada no processo de manejo de uma alimentação saudável e menos direcionada pelo impulso e pelo prazer circunstancial. O experimento consistiu em pesar esses indivíduos e dividi-los em dois grupos. O primeiro grupo recebeu um treino que ajudava a reconhecer suas emoções básicas e, portanto, desenvolver mais inteligência emocional, enquanto o segundo grupo (o controle), não recebeu essa capacitação. Após esse procedimento, os participanto, os participantes foram expostos a uma variedade de produtos e de embalagens de alimentos (snacks, primordialmente).
Sabe do resultado? Aqueles que receberam o treinamento e conseguiram aprimorar o entendimento de suas emoções demonstraram maior propensão à escolha de itens mais saudáveis, o que resultou na diminuição de uma alimentação mais "emocional", aumentando assim o autocontrole e diminuindo a quantidade de calorias consumidas (a do grupo controle, inclusive, foi bastante maior).
Três meses mais tarde, os participantes de ambos os grupos foram novamente pesados: Aqueles que receberam a capacitação em reconhecer suas emoções tinham, em média, perdido mais peso, se comparados àqueles que não haviam recebido orientação alguma e que, ao contrário, apresentaram ganho de peso.
Conclusão
Os autores concluem a investigação sugerindo que os programas educacionais de consumo deveriam colocar menos foco na leitura dos rótulos nutricionais e, em vez disso, encorajar a prática de exercícios psicológicos que possam melhorar a consciência emocional.
E finalizam, afirmando que, com uma melhor compreensão de como as pessoas se sentem, estarão elas mais aptas a usar suas emoções na tomada de decisões que sejam melhores e mais saudáveis, pois não apenas irão comer melhor, mas igualmente conseguirão sentir-se mais saudáveis e mais satisfeitas emocionalmente, aumentando assim seu bem-estar geral. Portanto, da próxima vez que você for se alimentar, pergunte-se antes:
(a) O que eu estou sentindo agora? Tente com isso fazer contato com suas emoções imediatas e identificar se o que você está prestes a ingerir irá, efetivamente, aquietar sua fome física (por exemplo, comer porque a barriga está "roncando") ou se para preencher um vazio emocional (fome psicológica);
(b) Uma vez identificado o sentimento e a natureza da fome, caso a mesma seja emocional, pergunte-se se não havia alguma alternativa factível para contornar ou manejar esse sentimento de maneira mais equilibrada. Por exemplo, se você está se sentindo irritado(a) ou entediado(a), pergunte-se: "além da comida, o que eu poderia, de fato, fazer para me ajudar?"
(c) Uma vez que sua emoção esteja identificada e alguma alternativa de ação possa ser implementada, seguramente seu episódio de fome emocional será mais controlado e consciente. E, finalmente, antes de fazer qualquer coisa que seja, pergunte-se sempre "como estou me sentindo?". Posso lhe assegurar que, ao realizar esse pequeno exercício, você terá alguns instantes para reconhecer seu estado emocional interno e, com isso, seu comportamento poderá modificar-se de maneira expressiva.
Ao final, você então estará apto a responder se, frente a uma alimentação desequilibrada, não se controla ou se, na verdade, escolhe não se controlar (comendo demasiadamente). Tudo é uma questão de percepção. Vamos tentar uma alimentação mais consciente?
Nenhum comentário:
Postar um comentário